Falcoaria e Legislação

A caça é uma atividade velha como o mundo. Caçar é um fenômeno natural e de longe uma invenção humana. Nos primórdios os hominídeos possuíam sua dieta predominantemente vegetariana e consumiam proteína de carne através da coleta de animais mortos.
Através de seu instinto de sobrevivência e a imitação de comportamentos de predação aprendidos diretamente da natureza, pouco a pouco se dá o aparecimento de um homem caçador. Um caçador inferior em tamanho, velocidade e força, se comparado aos animais que caçava, mas, em contrapartida, inteligente e inventivo, que para superar estas desvantagens, se viu forçado a desenvolver gradualmente novas formas de comunicação e de cooperação para a caça, bem como a idéia de fabricar utensílios e adestrar animais que o auxiliassem nesta tarefa.
Acredita-se que a Falcoaria tenha surgido na Ásia Central, no período Neolítico. Os povos primitivos que habitavam esta região eram compostos por tribos nômades e caçadoras. Naturalmente estes homens primitivos assistiam freqüentemente a forma como algumas aves de rapina caçavam, observando como desciam do céu para capturar habilmente os outros animais que lhe servem de alimento.
Quantas vezes ao movimentarem-se durante as suas deslocações, os homens punham as aves terrestres em fuga, propiciando o ataque dos falcões, que do ar observavam as evoluções dos homens no terreno, esperando que estes levantassem a caça, para então se precipitarem sobre ela? Repetidas vezes, este homem primitivo colaborou involuntariamente no lance de caça da ave de rapina observando indiscretamente estas capturas ao natural. Chego a afirmar com bastante confiança que este homem primitivo, rotineiramente permanecia escondido e aguardando à distância esperando que a ave caçadora matasse a sua presa, para em seguida se aproximar e se apoderar dos despojos.

Então, porque não utilizar desta característica da ave para um interesse próprio?
Surge a partir deste poder de observação, percepção e sensibilidade do homem a Falcoaria.

Com o passar dos milênios ela vai se desenvolvendo e se disseminando pela Ásia, até entrar e se espalhar por toda a Europa no período das Cruzadas. Lá ganhou muita popularidade durante a Idade Média, sendo o esporte mais praticado na época por toda a sociedade.
Com o advento das armas de fogo, mudanças de gostos e hábitos e a proletarização da caça e agricultura, por volta do século XV, a Falcoaria cai em desuso, mas graças ao sentimento de tradição de alguns povos, nós a temos como ela é hoje.
Apesar de ainda não possuir regulamentação no Brasil, a Falcoaria vem sendo bem aceita pelo IBAMA e, através de termos de cooperação estabelecidos com este órgão de forma regional, a Falcoaria é utilizada pela ABFPAR com sucesso em programas educacionais e de conservação envolvendo a triagem de aves, sua reabilitação e reintegração à vida silvestre. Outro ponto chave é a parceria de falcoeiros com a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (INFRAERO) na implementação da Falcoaria como controle ecológico de pragas em sítios aeroportuários para prevenir colisões entre aves e aeronaves.
Em 2010 a Falcoaria foi nomeada Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas (UNESCO) o que acabará se tornando um divisor de águas para a criação de uma legislação competente em nosso país.